Por Finian Cunningham, via Strategic Culture Foundation, tradução de Eduardo Pessine

“Ser negro nos Estados Unidos não deveria ser um sentença de morte”. Assim disse o prefeito de Minneapolis, Jacob Frey, após o assassinato brutal de George Floyd por um policial nas ruas de Saint Paul.
Floyd, que tinha 46 anos, foi filmado por testemunhas algemado e imobilizado contra o asfalto, enquanto um policial pressionava o joelho contra seu pescoço por oito minutos. Apesar dos apelos desesperados de Floyd de que não conseguia respirar e a indignação dos presentes ao redor, o policial assassinou-o sufocado.
Quatro policiais foram supostamente demitidos após a revolta contra o assassinato de Floyd. Minneapolis e outras cidades presenciaram rebeliões por algumas noite após o incidente no dia 25 de maio. Filmagens mostraram que a vítima não estava resistindo à prisão como os policiais alegavam anteriormente. Ele foi detido sob suspeita de usar uma nota falsificada de 20 dólares em um restaurante. Tal excesso de uso da força pela polícia – mesmo se as acusações de falsificação fossem verdadeiras – é escandalosamente desproporcional.
Evidentemente, George Floyd foi assassinado por um policial branco, na rua, em plena luz do dia. O verdadeiro “crime” da vítima foi ser negro.
Estudos sobre dados oficiais mostram consistentemente que homens negros estadunidenses, proporcionalmente à população, são muito mais propensos a morrerem em abordagens policiais em comparação com seus pares brancos.
O caso de George Floyd é cruelmente semelhante ao de Eric Garner, que foi morto sufocado por um policial na cidade de Nova Iorque em 2014. Garner foi detido sob a suspeita de venda de cigarros contrabandeados na rua. Ele também implorou por misericórdia durante o estrangulamento, dizendo aos policiais que não conseguia respirar, antes de ser sufocado até a morte.
A maioria das mortes, no entanto, pelas mãos de agentes de segurança, são causadas por armas de fogo. Invariavelmente, a desculpa repetida é de que o agente “sentiu que sua vida estava sendo ameaçada” pela vítima. Philando Castile foi morto a tiros ao lado de seu carro parado em julho de 2016, com alegação do policial de que Castile moveu sua mão de forma suspeita. Isso foi após a vítima dizer calmamente ao policial de que carregava uma arma de fogo no carro, como forma de alertá-lo contra qualquer erro fatal.
A grande maioria dos policiais acusados desses tipos de assassinatos racistas nunca são processados, ou nem mesmo exonerados.
Michael Brown, um adolescente, foi morto a tiros em Ferguson, no estado de Missouri em 2014, ainda que testemunhas tenham dito que eles estava com suas mãos para cima quando confrontado pelo policial. O assassino não foi nem mesmo processado, após o júri aceitar sua alegação de legítima defesa.
Tamir Rice, um jovem de 12 anos, foi morto a tiros por dois policiais em Cleveland, no estado de Ohio em 2014, sob a suspeita de segurar uma arma de fogo enquanto brincava em um parquinho infantil. Revelou-se que o garoto carregava uma arma de brinquedo. Os assassinos não sofreram nenhum processo.
Essa impunidade institucionalizada para os policiais inevitavelmente se espalha amplamente para a sociedade. A suspeita racista de negros envolvidos em crimes é invocada repetidamente por justiceiros auto-proclamados e armados.
No começo deste ano, em fevereiro, Ahmaud Arbery foi assassinado a tiros enquanto se exercitava em Brunswick, Georgia. Seus agressores, pai e filho brancos, suspeitaram que ele estava envolvido em uma invasão domiciliar na região. Filmagens mostram claramente que a vítima estava desarmada e com roupas de corrida. Entretanto, ele foi morto a tiros por pai e filho, um dos quais é ex-policial.
Outro caso notório é o de Trayvon Martin, um adolescente que foi perseguido e morto a tiros em 2012 por um justiceiro de um bairro na Flórida, novamente sob a suspeita de ter cometido um assalto.
A verdade cruel é que o assassinato de negros estadunidenses é tão comum hoje quanto foi durante o período do apartheid nos estados do Sul e das leis segregacionistas Jim Crow que existiram há pouco tempo atrás. O Ku Klux Klan pode não estar mais queimando cruzes abertamente ou arrastando corpos de vítimas com caminhonetes pelas ruas até dilacerá-los, já que leis de igualdade racial desde os anos 1960 trouxeram uma aparência de equidade em termos de direitos e proteção jurídica.
Mas no mundo real da sociedade dos Estados Unidos, os negros ainda são sistematicamente mais pobres, mais desempregados, mais enfermos, discriminados e desprovidos. A pandemia de coronavírus que devastou o país – mais de 100.000 mortos em quatro meses – está afetando desproporcionalmente os negros devido às suas condições de vida deterioradas.
Ser alvejado e estrangulado por policiais ou justiceiros, que saem impunes, é parte do racismo sistemático que relega os negros e outras minorias ao mais baixo degrau dos trabalhadores pobres.
Uma manifestação sinistra deste fato foi o incidente na última semana no Central Park em Nova Iorque, quando uma mulher branca ligou histericamente à polícia, alegando que sua vida estava sendo ameaçada por um homem negro. O homem havia simplesmente pedido à mulher para encoleirar seu cachorro, de acordo com as regras do parque. Filmagens de uma testemunha mostraram que ela não foi desrespeitada de forma alguma durante a discussão. Evidentemente, ela acusou falsamente o homem de más intenções e, além disso, sentiu arrogantemente que sua voz seria apoiada pela polícia contra um homem negro.
Caso os policiais tivessem chegado rapidamente à cena, possivelmente o homem teria sido morto a tiros por resistir à prisão ou sob suspeita de ameaçar suas vidas com o binóculo que carregava. Porque, a realidade é que ser negro nos Estados Unidos é uma sentença de morte.
E mesmo assim, os políticos e a mídia estadunidense ousam repreender e sancionar a China, Rússia, Cuba, Irã, Venezuela, e outros países em relação aos direitos humanos.
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